terça-feira, 26 de setembro de 2017

"Vejo flores em você"

“Ela está com câncer”, ela disse, pouco antes de desabar em choro - emocionalmente esgotada, com medo e ansiosa. Imediatamente vieram duas amigas consolar palavras que anestesiam, confortam.
As mulheres tem esse dom: ao detectar qualquer problema, logo se juntam e falam. Falam e falam até que o mal tenha se dissipado, o medo tenha diminuído e o equilíbrio se restabelecido. É um hospital emocional, bonito de se ver. Um processo de cura pela atenção, pela palavra, pelo amor.
Mulher tem esse dom que é motivo de piada muitas vezes, mas que levam a sério quando precisam de cuidado e carinho. Um dom que está latente e, embora aparentemente em baixa, chega a ser instintivo quando acionado. Quando a parte do “o que você precisa?” é maior do que a do “não vou me meter pra não ser invasivo”, somos capazes de mudar muita coisa e fazer muita diferença pra quem está ao nosso redor.
Me pergunto quando toda nossa polidez nos fez perder a humanidade.. Quando ser mulher passou a ser sinônimo de fraqueza e querer igualar os gêneros a qualquer custo nos fez perder a nossa essência..

sexta-feira, 30 de junho de 2017

A menina com flores

Aqueles olhos vazios que transmitem uma dor e tristeza profundos, escondidos em belas cores.. Não consigo ver as cores, só os olhos me atraem para um cenário obscuro. Posso dizer que é medo mesmo.. medo de ser absorvida por esses olhos e ali ficar: presa num lugar de onde não possa sair, um lugar onde nada consiga disfarçar a angústia de dentro, nem mesmo as cores e o sol de fora. É esse objetivo da arte, não é? Revelar um pouco de nós mesmos, traduzir emoções.. Mas ela funciona como um espelho - cada um enxerga de uma forma, a depender de sua bagagem, sua história, seus medos e fantasias.. Tem algo bem humano em querer saber o que há por trás do que se mostra, enxergar o que não se expressa, o que se esconde.. E nessas interpretações do que não se vê é onde vemos a pluralidade e a beleza dos pontos de vista. “Essa menina, tão bonita!”, ele disse. Mas eu só conseguia ver os olhos.. será que um dia ela vai conseguir sair dali?

domingo, 25 de junho de 2017

Do choro ao riso, do luto à luta.

Até onde nos perdemos tentando nos encontrar? Essa risada efêmera é a tal felicidade? O que os palhaços fazem quando a cortina se fecha? Quando a plateia vai embora? Quando a vida acaba? “Melhor ir a uma casa onde há luto”, ele disse. “Se a pessoa não se esforça, a vida ensina”, ela ouviu. E nesse inverno de rostos felizes, dentes brancos e lindas fachadas, me pergunto: onde as pessoas se escondem? Num mar de dramas, qual o verdadeiro espetáculo – o riso ou o choro? “Porque tudo nessa vida passa”, mas o que fica pra quem fica - quem fica ou quem vai? Qual seu equilíbrio agora? Quem é seu mundo? A vida é uma eterna mudança, sempre pensei, agora muito mais concretamente. Nada permanece. Como uma bruma, um sopro, a vida é como um riso: leve enquanto dura e breve quando se vai.

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Notas para mim mesma

Pensando em como as pessoas recebem o que lhes damos.. Seja uma palavra, um artigo, uma lembrança.. roupa, comida, o que seja.. se saiu de nós já não é responsabilidade nossa, as pessoas têm suas escolhas. Já dei sopa para uma pessoa que preferia ter recebido dinheiro, por exemplo. Lembro de ter ficado indignada, sem entender aquilo: se a pessoa está com fome, prefere dinheiro?! Claro que sabia o motivo, mas fiquei pensando bastante sobre isso, até que me caiu a ficha e a partir daí tem sido uma metáfora para muitas outras coisas.. não é mais meu!
Podemos controlar tudo o que sai de nós, tudo o que espalhamos pelo mundo, mas não podemos controlar como ou se será recebido e nem qual será a reação do outro. Se a pessoa prefere recusar todas as sopas na espera de um dinheiro que pode nunca vir, é uma escolha dela, todos temos autonomia. O que não podemos é deixar de fazer nossa parte, distribuir amor, atenção, carinho.. Mesmo que não seja aceito, amor não se esgota. Pra quê mesquinhar?

terça-feira, 16 de agosto de 2016

"Prestando atenção em cores"

Tenho pensado muito a respeito das relações interpessoais, com todo mundo que observo.. Percebo que as pessoas são boas e tenho notado até.. não sei se ingenuidade seria a palavra certa, talvez ausência de cinismo. Explico-me.
Sempre olhei as pessoas com dúvidas a respeito de suas motivações, como se tivessem segundas e terceiras intenções e tenho notado que elas são mais puras do que eu pensava. Não "puras" de imaculadas, mas puras de límpidas, sem turvação - como boas cachaças! Quero dizer, o que elas transmitem é, em geral, realmente o que querem transmitir, sem malabarismos emocionais. Isso é particularmente notável ao falarem sobre crianças e animais - parece que desperta algo íntimo de cada um, bonito de ver, olhos brilhando e sorrisos contidos. Sempre fui meio sarcástica e irônica - quando alguém falava alguma coisa boa, eu reagia como numa brincadeira, por achar que eles estavam sendo irônicos também. Mas não. Na verdade, não estão! E isso é tão novo pra mim: ver simplicidade e inocência nos outros, em cada um, em todos nós.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

"Toda vez que falta luz, o invisível nos salta aos olhos."

Entrando na UTI percebi, dentre semivivos e moribundos, uma família alegre, rindo com alguma graça do acamado. Alguma graça sem graça, mas que alivia e reconforta - há vida novamente! Foi então que notei que não há algo superespecial em alguém especial.. Há algo superespecial em cada um de nós! Todos temos essa centelha de alegria e vida, que são postas à prova em algum momento, mas existe em cada um, não é propriedade de poucos nem nos fazem especiais.. Todos têm, só não convivemos o suficiente com nosso próximo nem nos damos a conhecer o suficiente para que recebamos e transmitamos a nossa luz.. É bom saber isso.. Nosso consolo pode estar mais perto do que pensamos e a pessoa inerte do lado pode ser a que mais lampeja.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

"No line on the horizon"

Essa linha reta, quase curva, seria uma metáfora da própria vida? Um ar de infinito com uma falsa ruptura - o que se esconde atrás desse muro de águas? Barulho incessante das ondas.. há algo de calmante nisso se você tiver paciência para desfrutar. Passados os momentos iniciais de inquietude, o difícil é desligar. Desligar da buzina, dos alarmes, dos alardes. Desligar do que ainda não foi e que não deveria ter sido. Desligar dos fantasmas reais e imaginários. Só desligar e usufruir.
Cada vez mais difícil essa ligação com a natureza.. será que é possível desligar de fato? Que limite foi ultrapassado que nos fez chegar aqui? Que linha invisível demarcou esse momento em que desaprendemos o que antes era tão natural? O que mudou no mundo ou em mim mesma? É isso uma coisa boa? O tempo diz tudo, afinal?