sábado, 16 de julho de 2011

Sublimação

Todos olhávamos para ela, sem entender aquela determinação. O júri, em especial, olhava-a condenando: tão resoluta com seu corte Chanel com franja. Ela parecia sublimar a situação.
Estávamos num tribunal, o júri era composto de mulheres, a partir dos 40 anos. Todas analisavam a ré de canto de olho. Ela sentara no banco das testemunhas, era sua hora de explicar o que acontecera. Estava muda, porém. Todos aguardavam.
Eis que uma senhora passou um papel para o advogado de defesa, o que serviu de âncora para a ré começar a narrar os fatos, como que adivinhando o conteúdo do bilhete.
“Sim, eu pedi que ele me matasse. Eu estava desesperada, desiludida. Pedi e lhe dei o dinheiro.” O jovem a entrecortou: “Eu não queria matá-la só queria pegar o dinheiro e ir embora” “E foi o que ele fez”, disse a ré. “Mas eu fiquei furiosa, fiz com que ele atirasse em mim e ele, por fim, atirou. Fiquei reconfortada a princípio, mas a dor foi surgindo. Ele, sem acreditar no que fizera, me levou ao hospital e ficou comigo. Toquei o rosto dele, como que agradecendo.” Seus olhos fitaram o jovem de olhos levemente puxados que agora estava emocionado. “Ele fez muito por mim, me deu a vida de novo. E ficou comigo, do meu lado.”
Nessa hora ela lembrava de olhar pela janela, já recuperada. Olhava o orvalho e pensava: esse é um grande dia! “Está sentindo tudo isso? Esse amor, essa esperança?” – perguntou ao jovem. “Mas ainda não é natal” “Eu sei, mas eu decidi! I am the light that lights the grass.”