Peguei o avião hoje e presenciei algo que nunca tinha visto num vôo: alguém em pânico. Não um medinho qualquer, mas um MEDÃO, daqueles com letras garrafais.
Me lembrei de uma vez.. eu estava saindo de Sampa e, como sua fama a precede, tava caindo mais que uma garoa.. uma tempestade! Chuva com vento, muita água com direito a raios e trovões. Se já tive algum medo de avião antes, nada se comparou àquilo! Parecia morte certa, cadeira elétrica com direito a platéia. Não entendi por que ninguém cancelava o vôo, mas com minha usual estratégia pra combater meus pânicos, pensei: "os caras fazem isso mil vezes por dia, TODOS os dias.. eles sabem o que fazem!"
E com esse pensamento, que se ajudava era pouco, lá fui eu andando no corredor da morte - piloto informa, ficando hesitante - ligando as turbinas, taquicardia - avião dando ré, coração na boca - anuncia a decolagem, sudorese crônica e parada cardíaca - levanta o vôo.
Algum tempo depois de ver as nuvens brilhando do meu lado pelo efeito dos raios - "é hoje!", pensei - e imaginar os raios que poderiam nos atingir, eis que olho novamente pela janela.. nunca vi paisagem mais linda!
As nuvens da tempestade agora formavam um enorme tapete de algodão, com tramas tão finas que só se vê algodão felpudo e macio até o infinito, um pôr-do-sol que aquarela nenhuma consegue retratar, raios amarelos, salmão e laranjas reluzindo nas nuvens, irradiando por todos os lados e o céu mais limpo que já vi. Parecia o céu depois do inferno, o alívio depois da tormenta... e foi aí que percebi: podemos transformar o medo em algo belo, grandioso, basta não nos apegarmos a ele.
Hoje não temo tempestades, só imagino o que está acima delas. Por trás dessa fachada escura e tenebrosa pode haver o mais belo e calmo céu azul. É tudo questão de ponto de vista.
