quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O grito da profundeza

Como todo dia, ontem peguei o metrô esperando que tivesse um lugar vago pra sentar. Tinha. O preferencial. Sem problemas, até que em certa estação chegou um moço com deficiência na perna e no braço. Com dificuldade para andar, ele conseguiu chegar perto da cadeira, ao que me levantei para lhe ceder o assento.
“Fica, fica, por favor, fica!” – disse ele. Seus olhos grandes, brilhantes, angustiados enfatizavam o pedido e me encaravam com um desespero de querer passar despercebido. Como que não desejando nenhum tratamento especial, ele ansiava desesperadamente ser como qualquer outro, qualquer um dali, quem quer que fosse.
Sorri em resposta e me sentei. O que eu poderia ter feito para aliviar a dor dele? Não haviam assentos preferenciais, cadeiras de rodas, passagens cedidas, não havia nada que o fizesse sentir melhor. É algum mérito ganhar a preferência? Não para ele. Ele daria tudo o que tinha pra não precisar mais dela.
Naquele momento, ele queria ser invisível, queria que as pessoas o apertassem e encobrissem, como costumeiramente fazem quando estão num transporte público. Naquele momento, qualquer coisa que fizessem com ele ou para ele seria uma tocada na ferida. Ele não queria bondade, gentileza. Ele não queria doação e com certeza não queria pena. Ele estava sensível. O brilho naqueles olhos traduziam as lágrimas de sua alma. Naquele momento, ele queria ser ninguém.

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